quarta-feira, 27 de maio de 2015

Resenha: All-American Boy - Steve Grand

  Boa tarde leitores do PunkNDisorderly, como vão vocês? Hoje falarei sobre um álbum bem especial de um cantor igualmente especial chamado Steve Grand.

  Steve começou sua carreira na música com covers no Youtube, exatamente como alguns músicos bem famosos hoje em dia já fizeram. Mas ele conseguiu notoriedade e atenção da mídia somente quando lançou um clipe para seu single All-American Boy em 2 de Julho de 2013. O que fez o vídeo se espalhar pela internet? O fato de Steve ser o primeiro cantor de música Country abertamente gay a se lançar nesse mercado. Veja bem: a música Country é bem tradicional nos Estados Unidos, e como tudo que é tradicional, é bem conservadora. Mesmo assim, continua sendo um dos meus gêneros musicais favoritos. Continuando, a música Country sempre foi muito conservadora, excluindo a comunidade LGBT de seu "espaço". Cantores homossexuais não poderiam cantar sobre sua verdade se quisessem se manter na indústria e não serem julgados, até mesmo excluídos e abandonados por suas gravadoras, como a cantora Chely Wright, que só pôde assumir sua orientação depois de já estar consolidada nesse universo. A mesma disse inclusive que Steve é bem valente por se lançar aberto sexualmente nesse mercado. "Este é um território desconhecido, como vocês sabem. Eu me assumi depois de estar anos no negócio, ele está tentando entrar no negócio". O que Steve fez de tão marcante? Lançou um clipe muito gentil sobre um cara se apaixonando por outro e descobrindo logo depois que ele é heterossexual. Pronto. All-American Boy tornou-se o hino de vários jovens gays na mesma situação e o nome de Steve já estava marcado na história da música Country, seja os conservadores querendo ou não. Logo depois, Steve lançou o clipe da música Stay e anunciou que começaria os trabalhos para lançar seu primeiro álbum. Não foi uma estrada fácil. Eu sei porque acompanhei os apelos e as campanhas de doação para arrecadar dinheiro para a produção e lançamento do mesmo. Teria ajudado se tivesse como, na época, isso um ano e meio atrás. O tempo passou e o sonho dele se concretizou, para a alegria de muitos fãs, e para a minha também. Precisamos de mais talentos como ele no mundo! E assim nasceu All-American Boy, o álbum.

  Desde o início, a característica que mais me chamou atenção em Steve era o fato dele escrever e produzir suas próprias músicas. Acho que ser gay é algo complementar a personalidade dele, parte do que ele é, e ele não precisa ser definido apenas como "o jovem cantor de country gay" porque ele é bem mais do que isso. Por que definir alguém por apenas um aspecto de sua personalidade, se todos nós somos um leque de diferenças que somam para formar um produto maior? Steve canta sobre homens, e isso é okay. Assim como cantores héteros cantam sobre o sexo oposto. Assim como homossexuais escutam músicas com letras heterossexuais e ainda assim conseguem aplicar à sua vida. Não vejo nada de errado na música dele, e se alguém vê, bom, isso vai de cada pessoa. Eu reverencio ao fato dele escrever suas próprias músicas porque não é todo cantor que faz isso. E gosto mais ainda de todas serem tão sinceras e do fundo do coração. Nada é melhor do que uma música sincera, em que você consegue sentir na alma tudo o que o artista está querendo passar. Muitas músicas são diários abertos, como as músicas do Goodbye Lullaby, álbum da Avril Lavigne. É muita coragem do artista se expor dessa forma para todo mundo ver, e mesmo assim muitos tentam e não conseguem fazer isso muito bem. Sentimentos são coisas pessoais, e ninguém gosta de expor suas dores, suas angústias, seus medos e as situações em que esteve por baixo, por isso eu admiro muito quem o faz. E isso também serve para sentimentos felizes! Muitas pessoas acreditam que estar apaixonado é uma fraqueza por exemplo, e não gostam de demonstrar. Por isso sei admirar uma boa love song. Mas agora que já falei um pouquinho do criador, vamos analisar a criatura em si!




  O álbum abre com Say You Love Me, uma baladinha animada tradicional de abertura de álbuns Country. Me lembrou muito o estilo de abertura do Gold da banda Lady Antebellum. Com um instrumental carregado de violões mesclados com o piano característico de Steve e um refrão poderoso, é uma das mais gostosinhas do álbum. A letra tem o mesmo conceito de All-American Boy, fala sobre estar apaixonado por um cara heterossexual - na perspectiva dele - e que neste caso, é seu melhor amigo, e que ele precisa manter isso tudo pra si para não perdê-lo. Isso é nítido quando no refrão ele diz "Porque quando eu fecho meus olhos, eu estou nesse mundo onde você não tem uma garota e eu estou bem ao seu lado. Dizer que você me ama não significa que eu vou te ter". É o tipo de música que já descreveu a situação de muita gente por aí, e é a minha favorita do álbum. A próxima música, Red, White And Blue, é a típica canção patriota que todo cantor ou banda Country precisa ter no currículo. A letra é romântica, mas usa a bandeira americana (as cores do título são as cores da bandeira) como referência para expressar algum tipo de sentimento. É uma música agitadinha, carregada com solos de guitarra em uma base acústica. A voz de Steve nessa música se mostra mais potente, com tons mais rasgados conforme ele vai alcançando notas altas. 

  Chegamos a um dos pontos mais altos do álbum, que eu pessoalmente torço para que seja o quinto single: We Are The Night. Uma das músicas mais pops da gravação, fugindo um pouco ao estilo Country com seus sintetizadores eletrônicos no refrão - e ainda sim sendo mais Country que o estilo Country-Pop de Taylor Swift no álbum Red. O que mais chama a atenção é a letra. É como se fosse um hino de todas a minorias. "Para todo garoto e toda garota, não importa quem você ama. E para todos os meus irmãos e irmãs trans de todas as raças, de todos os lugares ao redor desse mundo, é a nossa hora, vamos nos levantar". Consigo ver essa música fazendo muito sucesso com um clipe certo, e se espalhando por toda a comunidade LGBT. E finalmente estamos na faixa título, a quarta música que dá título ao álbum, All-American Boy. Legitimamente Country com uma nova roupagem para o álbum, é a música que levou Steve ao patamar de artista conhecido que muitos almejam. Nessa "nova" versão, a música está um pouco mais enérgica e mais carregada nos violões e no piano que a primeira versão lançada, que vocês podem conferir aqui embaixo. Como eu já disse antes, a letra fala sobre se apaixonar por um heterossexual, mas eu acredito que possa ser aplicada à qualquer situação de quem gosta de alguém que não pode ter. É uma balada muito gostosa de se ouvir. Steve produziu o clipe sozinho, que teve um custo de 7000 dólares, e foi dirigido e editado por Jason Knade, cujo qual possui alguns prêmios no currículo. Em 8 dias, o vídeo já possuía mais de um milhão de views no Youtube. Embora a grande maioria das críticas tenham sido positivas, alguns ativistas da causa LGBT criticaram o conteúdo, dizendo que possui a mensagem que "homens gays bebem muito, sentem pena de si mesmos e chegam em homens héteros quando estes estão sem suas namoradas". Escrevendo para a revista Slate, J. Bryan Lawder foi ainda mais severo. Sua declaração foi a seguinte: "Muito fora de contexto com os tempos atuais. É algo como história gay obscena antes de Stonewall [Nota: A Rebelião de Stonewall foi um conjunto de conflitos violentos entre a comunidade LGBT e a polícia de Nova York. Foi um marco por ter sido a primeira vez em que um grande número de pessoas LGBT se juntou para resistir aos maus tratos da polícia contra a comunidade]" e adicionando, "essa narrativa particular do tentador cara hétero e da rainha apaixonada é tão banal na comunidade gay que é motivo de risada". Steve se manteve firme às críticas e disse que aprecia as diferentes perspectivas a respeito de seu trabalho. Em uma entrevista, ele disse "Quando eu fiz o vídeo, eu não o fiz para propor qualquer situação sobre pessoas gays diferente das que nós compartilhamos com nossos irmãos e irmãs héteros - a que às vezes você ama alguém que não pode ter. Eu sei que soa verdadeiro especialmente para gays que crescem em um mundo heterossexual". E realmente soa. Desaprecio as críticas negativas e sou totalmente Team Steve nesse caso. Acho que pra você entender realmente o conceito de alguma coisa você precisa ter que vivê-la primeiro antes de dizer qualquer coisa.


All-American Boy


  A quinta música, Soakin' Wet, é uma baladinha animada carregada em violões e uma batida característica que vai ganhando força conforme chega o refrão. Uma divertida música típica de álbuns Country-Pop com uma letra nostálgica que fala sobre se divertir com uma pessoa do passado. Não chamou muito a minha atenção. A sexta música, Lovin' Again, é uma balada calma (esse álbum é recheado de baladas), com o piano característico de Steve guiando o resto do instrumental. Com uma típica letra romântica sobre dizer a deus e seguir em frente mas ainda ter lembranças convidativas do passado, a música é talvez a mais clássica de Country do álbum. Seguindo para a sétima música, Whiskey Crime, aqui encontramos um Steve mais agitado e divertido cantando sobre um dos temas favoritos dos artistas Country: bebida. (risos) A letra é um tanto bobinha, mas garanto que dá uma diversão boa numa festa depois de alguns drinks. A voz dele tá bem carregada nessa música, e os backing vocals dominam toda a batida. Com um solo brilhante de guitarra antes da ponte, a música é regida por batidas fortes e agitadas, perfeitas pra momentos enérgicos nos shows. A nona música e segundo single da gravação, Stay, segue a linha de Whiskey Crime, porém com um instrumental mais leve e menos carregado, e uma letra romântica. Os metais são característicos nessa, juntamente com um banjo guiando as batidas desde o início, dando um ar divertido e animado à música. Perfeita pra festas também. A letra é simples mas objetiva: "Eu acho que você deveria ficar comigo por todo o verão, ficar comigo embaixo das cobertas, ficar comigo e ser meu amor". O clipe também é bem objetivo. Se você está cansado de histórias de amor gays que sempre terminam tragicamente, vale à pena dar uma conferida nessa.


Stay

  A nona música, Next To Me, também segue a linha animada das duas anteriores, só que desta vez repleta de guitarras distorcidas com um piano característico, e vocais carregados. Conhecemos um pouco mais da potência vocal de Steve nessa. A letra é divertida e acho que o trecho "Você está dançando ao meu lado, você balança seu corpo como oh oh oh, está tomando conta de mim agora, continue dançando, continue dançando ao meu lado" descreve bem sobre o que ela se trata. Voltando ao nível de músicas depressivas-tristes-que-te-destroem-te-deixando-na-merda chegamos à décima canção do álbum e minha segunda favorita, Time. Eu me apaixonei pelo instrumental no momento em que ouvi porque sou apaixonado por músicas que começam devagar e vão crescendo, como uma energia que vai aumentando mais e mais dentro de você até explodir. O interessante é que ela não explode, ela permanece simples, porque afinal é uma música relativamente triste. O piano regendo a canção é a parte mais bonita, logo depois entram as batidas e notas soltas de guitarra acompanhando, e ela vai crescendo e crescendo até se acalmar de novo numa batida quase uptempo. A letra é uma nostálgica lembrança do passado quando "o tempo estava a nosso favor". Vale a pena conferir quem sente saudades de alguém ou de um relacionamento. Dizem que uma boa música triste acalma um coração aflito. 



Time


  Better Off é a décima primeira música do álbum. Também possui o piano característico de Steve, só que dessa vez misturado à sintetizadores parecidos com os usados em We Are The Night. Acho que é uma típica canção pra "encher linguiça" no álbum, porque ela é um pouco "mais do mesmo" já feito na gravação, e é uma que eu praticamente nunca escuto, nem tem o menor significado pra mim. O que tenho a falar sobre a décima segunda música do álbum é um pouco contraditório e fora de sentido, mas é a verdade: Run me lembra muito a introdução de um álbum de música cristã de artistas gospel como Jeremy Camp. Uma música forte com uma letra igualmente intensa, onde ele canta "eu começo a correr, eu ainda sou jovem, sem olhar pra trás de onde eu vim", me lembrou muito hinos que cantam em igrejas por aí. Talvez muitos não entendam porque fiz essa conexão, mas isso com certeza faz muito sentido pra mim. Poderia até citar Reckless do Jeremy como referência, se alguém quiser entender do que estou falando. Finalmente, chegamos ao encerramento do álbum com Back To California. À primeira vista, eu achei o vídeo completamente desconexo com a realidade que Steve queria passar, como se ele quisesse dizer "Então, eu gosto de homens mas eu ainda sou machão, não sou afeminada, olha como eu pego essa menina". Tecnicamente, a menina no clipe seria uma melhor amiga do passado e a música falaria disso: de uma amizade sincera e verdadeira que ele tem muita saudade. Comecei a entender sobre isso quando coisas do tipo começaram a acontecer comigo. Infelizmente, existem momentos no nosso passado que não podemos voltar, e é quase como se você já soubesse que fosse sentir falta das coisas que você está vivendo agora. Depois de compreender isso, comecei a apreciar a música e o videoclipe. Falando nisso, dedico essa música à uma das minhas melhores amigas Mariane Ferrari, brilhante autora do Miscelânea da Mari e do Bookworm Like. Você sabe o porquê, Mari. :')


Back To California


  Todas as músicas foram compostas por Steve, exceto Red, White And Blue (Steve Grand, Itaal Shur e Larry Dvoskin) e Soakin' Wet (Steve Grand e Andrew Allen). O álbum estreou em quadragésimo sétimo lugar na Billboard 200 e nos em terceira posição nos charts de Álbuns Independentes. Vendeu 10.000 cópias no final da semana do fim de Março.

  E é isso galera, chegamos ao fim de mais uma postagem! Vale a pena conferir o trabalho de Steve assim como vocês estão aqui conferindo o meu! E lembrem-se: críticas, dúvidas e sugestões, é só deixar aqui nos comentários. Infelizmente não vai rolar vídeo pra essa resenha porque o cd físico só foi lançado lá nos Estados Unidos. Quem sabe numa próxima? Hahaha Beijo grande, e até a próxima! 

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